Nasci na Tijuca, Rio de Janeiro, em 17 de agosto de 1971, filho de Antonio Carlos e Luzia e irmão de Regina. Minha mãe diz que quando pequeno eu não gostava das músicas dirigidas para crianças e que que um dos meus hits era “You Are The Sunshine Of My Life” de Stevie Wonder (professor Stevie desde cedo ali…). Com uns 7 anos me apaixonei pela disco music que tocava o dia inteiro no rádio e na vitrola de minha irmã.
A partir daí começou uma sadia mania de colecionar discos com todos os cuidados que estes requerem. Até que em 82/83 descubro o rock e suas revistas, enciclopédias, discos importados e toda aquela parafernália de colecionador. Me transformo num pesquisador profundo do assunto, de Scooty Moore à Jimmy Page, renegando meu passado disco/soul/funk, atitude típica do público deste tipo de música, vira uma religião, camisetas, bottons e todas essas bobagens...
Logo após o “descobrimento do rock”, fui convidado pelo meu vizinho Marquinhos a ser o vocalista de sua banda de hard rock “Kabbalah” (“hard” e não “heavy”, guitarras “Gibson” e não “Jackson”) que tocava coisas do Deep Purple, Black Sabbath, AC/DC e outros. Era bastante influenciado pelo Iron Maiden e Thin Lizzy com várias partes instrumentais. Me lembro que logo depois só queria saber de blues/rock, tipo Free, Rory Gallaguer, Johnny Winter, Alexis Korner… E saí da banda para tentar fazer este som. Até que eu descobri o disco “Blow by Blow”de Jeff Beck que me deu um tapa na cara e uma retomada ao universo da música negra que eu havia abandonado por uns tempos na época.
Este é o período que consigo minha “carta de alforria”, saindo do colégio na 7º série incompleta. Foi um ato heróico de meu pai ter consentido tal façanha. Queria sair para estudar música e não virar “playboy de festa” que aliás nunca fui mesmo. Escrevi em fanzine sobre música negra, fui dublê de DJ e organizei, junto com minha amiga Lisiane, uma semana sobre soul e funk no MIS (Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro).
Um pouco depois conheci o “Comprido” (Luiz Fernando, guitarrista do Conexão Japeri) e começamos o embrião do Conexão Japeri com diversas “jams” em estúdios na Tijuca e Grajaú. O primeiro nome foi Expresso Realengo depois virou Conexão Japeri, nome dado pelo amigo e fotógrafo Henyo Barreto. Este período foi bastante agradável apesar de nunca ter me adaptado à “democracia de uma banda”. Sempre quis trabalhar minhas idéias, as pessoas costumam falar que quem não trabalha em conjunto é egocêntrico (que considero uma virtude), o que seriam dos compositores eruditos ou grandes monstros sagrados da literatura? Tinham que fazer uma “bandinha”ou uma “turminha”? Do Conexão Japeri, surgiram os sucessos “Vamos Dançar” e “Manuel”.
O “Conexão Japeri”, afinal de contas é meu 1º disco, e obviamente devo confessar um “quê passional” com tudo isto. No 2º ano de trabalho pensava a todo momento em fazer uma carreira solo que se concretizou no disco “Um Contrato Com Deus”. Este disco foi feito a 4 mãos com meu talentoso amigo e parceiro Bombom. Era um grande momento para mim.
Depois disso tenho o grande momento da minha vida: Edna, minha musa, uma mulher inteligente e decisiva na minha formação desde 1990, sem palavras…
Agora pulo para o polêmico “Entre e Ouça” que queríamos algo como Steely Dan, mas cujo orçamento era de um artista underground jamaicano, mas saiu. Na época muita gente criticou o fato de estarmos usando equipamentos antigos e “obsoletos”, hoje os mesmos se utilizam destes para posarem de “moderninhos antenados”. As músicas aqui não eram para dançar mas para pensar, tinham muitas “convenções” e “partes” e na época eu não estava fazendo a mínima questão de “sucesso” radiofônico, pelo contrário.
O “edmottês” é uma maneira brincalhona de denominar uma música cantada que não tenha letra. Tem gente que chega pra mim e pergunta: “aquilo não queria dizer nada?!” O Brasil se acostumou com o fato das letras de música serem uma “válvula de escape” da ditadura e se fechou para uma das coisas que tem de mais rico, vide Villa Lobos: a música!!! Música, abstração, para mim um dó menor fala triste, sua cor é azul noturno e um dó maior é amarelo, alegre e jovial.
Eu tinha ódio de letra de música devido a tudo isso, mas o que me tirou esta mágoa foi Aldir Blanc. Ouvindo os discos do Guinga aprendi muita coisa de MPB, choro, valsa, modinha, clássico e… letras! Sim as odiadas letras agora me faziam chorar de emoção. Depois do Aldir pensei: Porque não fazer uma música com boas letras? Mas não descarto a possibilidade sonhadora de fazer um disco sem letras, é uma questão de honra (último detalhe para concluir: hoje quando escuto uma letra ruim, critico, mas se a música for boa está OK, é óbvio. O contrário nunca acontece porque se a letra for ótima e a música ruim meus nervos não suportam. Quem faz isso deveria escrever livros e não poluir a música).
Depois fui morar por um ano em Nova York para para gravar um disco que nunca saiu e talvez nunca saia, com feras como Eddie Gomez, Bernard Purdie e Chuck Rayney. Lá se firmou uma coisa que sempre namorei mas que então fui “de cabeça”: meu lado gourmand e gourmet, com acesso a vários queijos, vinhos, etc, por preços 4 vezes menores que os daqui.
Descobri também a música erudita de Grieg, Fauré, Cesar Frank, Debussy e outros nas bibliotecas públicas da cidade que têm também um acervo impressionante de filmes preto e branco, tudo de graça (com certeza a única coisa que sinto saudade de Nova York, junto com os preços “satisfaction guaranteed”). Nos EUA foi quando surgiu a 1ª composição inspirada na “música popular brasileira de harmonia rica” (mpbhr). O tema era “Crescente Fértil”, que 3 anos depois tive a honra de uma parceria com o gênio Aldir Blanc e incluí-la em seu disco de 50 anos. Me lembro que liguei para o Guinga e toquei pelo telefone para ele, meu grande mestre. Na volta para o Brasil me esqueci que o tipo de MPB que queria fazer não era muito “viável” e fiquei pelo menos um ano paralizado por isso. “Paralizado numas” fiz a trilha do Pequeno Dicionário Amoroso e vários shows pelo Brasil e EUA, Buenos Aires, Roma e Paris. E compondo muito, aliás, compor para mim é como respirar. Paralizado no sentido de registro em disco.
De volta ao Brasil, em 1994/5, inicio novas parcerias compondo para o cinema. A trilha para o curta de animação “Ninó” (de Flávia Alfinito) foi premiada no Festival de Cinema de Vitória. Em 1996, fui um dos autores da trilha sonora do filme “Pequeno Dicionário Amoroso” (longa-metragem dirigido por Sandra Werneck), cuja canção-tema era “Falso Milagre do Amor” (parceria de Ed e Ronaldo Bastos).
Apesar de ser brasileiro se a questão é ritmo eu e uma grande parte da minha geração fomos expostos muito mais ao pop norte-americano e inglês inicialmente. Aí pensei: posso fazer uma coisa popular de nível, sofisticação, cuidado, etc, mas que remetesse à minha irônica “raiz” inicial: o soul/funk norte-americano. Então iniciei a idéia de 'Manual Prático Para Festas, Bailes e Afins Vol.I' . Foi com prazer saudosista que realizei este disco. A todo momento me lembrava do 'Conexão' e 'Contrato Com Deus' e toda noite quando voltava para casa ouvia meus discos de vinil de soul/funk e os de reggae também, que até então não ouvia mais. Aliás, um hábito que tenho nos dias livres é escutar, limpar e botar novos plásticos de proteção para os antigos vinis, adoro! São meus cachorros que não latem…
Voltando ao 'Manual Prático…vol 1', é um disco que tem o sabor da simplicidade dos meus primeiros trabalhos mas com uma capacidade técnica e de composição maiores. Assim espero eu… Estou querendo sempre melhorar, estudando música (dentro do possível tempo/compromissos/cansaço destes…) escutando coisas, etc.
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O disco “Manual prático para festas, bailes e afins, Vol. 1” confirma a reconciliação de Ed com o sucesso. Produzido por Liminha, traz nova versão para “Falso milagre do amor” e mais sucessos, como “Fora da lei” (parceria com Rita Lee), “Vendaval” (com Ronaldo Bastos) e “Daqui pro Méier” (com Chico Amaral). O show de “Manual prático…” percorre o Brasil, mas Ed encontra tempo para compor e gravar novas trilhas: a música que escreveu e gravou para o média-metragem “De Janela pro Cinema” (de Quiá Rodrigues) ganhou os prêmios nos festivais de cinema de Vitória, Maranhão e Recife. Ainda experimenta diversas formações no palco, cantando com a Orquestra Jazz Sinfônica ou no show com o trio de jazz. Entre os shows internacionais, Ed dividiu o palco com o vibrafonista Roy Ayers, no Summer Stage do Central Park, em Nova York. Também lança o CD “Remixes & Aperitivos”, que reúne regravações ou remixagens de alguns de seus maiores sucessos.
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Entre o 'Manual', com o qual tive o prazer de receber meu primeiro disco de ouro e o novo 'As Segundas Intenções' muita água rolou, desde duas trilhas premiadas (Ninó e Uma Janela Para o Cinema) a um show inesquecível com Roy Ayers no Central Park em NY.
Depois disso veio o “Dwitza”. A idéia desse disco surgiu quando eu pensei e me questionei no que poderia lucrar na negociação do contrato. Outros artistas pensam em dinheiro, coisas materiais - “ah, vou comprar um apartamento”, por aí vai. Eu não. Eu queria gravar um disco especial, queria ter o mesmo tratamento que dão aos meus discos pop, mas que fosse instrumental. Gosto de dizer que é um disco instrumental. Tem jazz no meio, bastante, mas também referências de música para cinema, canções de musicais da Broadway, e música brasileira também. Sempre tive interesse em fazer música instrumental, e venho me preparando para isso; estudei harmonia, composição, sei onde estou pisando. Queria que Dwitza tivesse um pouquinho de cada coisa que eu ouço, e mesmo assim nem consegui colocar tudo no disco. Gravar esse disco,”Dwitza”, foi um dos maiores prazers na vida até agora, a sonoridade, os arranjos, as composições…
“Poptical”, eu mesmo produzi e ele conta com letras de Seu Jorge, Adriana Calcanhotto, Daniel Carlomagno, Bluey (líder do grupo inglês Incognito) e outros convidados.
Flertei com o musical em "Aystelum" e fiquei soturno em "Chapter 9".
Agora, comemoro esse aniversário em clima de "Piquenique" e muito espumante para celebrar a vida !
Acho que esta bio, imensa para os padrões da web, deve parar por aqui e as informações acerca do novo disco (e dos que virão) estão disponibilizadas em vários diretórios deste site. Todo meu carinho e respeito por aqueles que sempre visitam este site!
Ed Motta
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Texto ficiticio publicado no Last Fm
Editado por crispim em Jun 23 2008, 5h05
Reeditado por Magnum Freire em Ago 2009, 00h 00.